A mulher é o melhor devoto da religião do homem. A maior parte das religiões é dirigida por homens, mas tem nas mulheres grandes madrinhas e um exército volumoso de cativas à submissão doutrinária. Se isso não vale para toda época e lugar, ao menos é a regra das religiões modernas ocidentais – cristãos, muçulmanos e judeus formam comunidades de poder declaradamente masculino, em todos os sentidos, mas com todas as baterias voltadas antes para as fiéis que os fiéis. Por que as coisas se passam assim? Serão os deuses apenas mais um instrumento de dominação do macho sobre a fêmea? É claro que deuses e sacerdotes mais poderosos são papéis que cabem melhor aos homens em um mundo feito sob o gosto masculino. Essa verdade simples e banal não raro é passada despercebida por uma série de mulheres integrantes dos mais variados partidos de emancipação da mulher. A religião possui tentáculos tão fortes entre as mulheres que mesmo aquelas que, por meio de algum veio do feminismo, conseguem distinguir os reais mecanismos de poder masculino que colocam a mulher em segundo plano na nossa vida social, isentam os credos e doutrinas da participação nesse pacote da submissão. Algumas mulheres chegam a participar do poder de comando das religiões e, nisso, se revelam as primeiras e as mais duras propagandistas das atitudes machistas da doutrina escolhida. Também as simbologias das religiões enviam recados bem claros sobre o que seria a psicologia das mulheres e a respeito de como toda a sociedade deve encará-las e que papéis podem reservar a elas. A religião cristã é elucidativamente didática em toda a sua simbologia sobre o mundo feminino. A mitologia que envolve o Velho Testamento, em especial a história do Paraíso, coloca uma Eva que nada é senão a ponte entre três figuras masculinas, Deus, o Diabo e o homem. A “árvore do conhecimento” é proibida aos mortais, pois o conhecimento, sabemos, é divino. Mas Eva nunca acreditou nisso. Jamais levou Deus a sério. Não foi difícil para o Demônio, em forma de serpente, conquistá-la para tentar comer o fruto que identificava a única proibição do Jardim do Eden. Ao querer saber das coisas, Eva e Adão perderam o mundo mágico. Todos que apelam para o conhecimento olham o mundo já sem os deuses, passam pelo “desencantamento do mundo” (Weber) e, então, imediatamente, já não conseguem mais a condição paradisíaca de vida. São expulsos da vida no Paraíso. Eva talvez nunca tenha entendido isso direito, mas Adão soube muito bem o que perdeu. Dali para diante, ele teve de trabalhar. A mitologia do Novo Testamento repete o quadrangular. Maria se coloca novamente entre três figuras masculinas, Deus, José e Jesus. A idéia básica, então, é a missão do filho de Deus, que nada é senão a reconstrução do elo entre os mortais e o Criador, rompido com o episódio de desobediência de Eva. O desencantamento foi provocado por Eva, e cabe à Maria colocar no mundo o instrumento não da possibilidade do reencantamento, mas a peça para a pavimentação da estrada em direção ao mundo encantado – o Reino dos Céus, um tipo de sobressalente do Paraíso. Tanto quanto Eva, Maria não é nada na história senão o elemento de desencadeamento da narrativa. Uma vez tendo Jesus nascido, ele logo percebe que a mãe é um empecilho diante de sua vocação e a afasta de sua vida – não raro, com palavras até grosseiras. Nas duas histórias básicas dos Evangelhos é a mulher que põe os elementos – o pecado e o Salvador – decisivos do enredo, mas ela não comanda nenhuma ação. São doadoras e, enfim, sem elas a história não é possível. Mas não dão um norte propositalmente pensado para as ações e muito menos tem algum papel decisivo quanto ao final das narrativas. Servem mas não são servidas e nem mesmo se servem. Na estrutura dos dois quadrangulares, elas aparecem como peças instrumentais que ali são colocadas apenas como meio, não como fim ou como protagonistas. Meio para o mal e meio para o bem, mas meio. O recado parece ser um só: esse meio necessário pode ser usado para o bem e para o mal, mas ele sempre será usado, pois é meio, não é fim. Nada pode objetivar. O cristianismo guardou bem essa lição: a razão é utilizada pelo homem como meio mental, a mulher é o seu meio material. A razão faz parte do seu aparelho psíquico, a mulher faz parte do seu aparelho doméstico. Dois meios importantes, mas nunca outra coisa senão meio. Todas as vezes que se pensou em quebrar isso, ninguém ousou agir no próprio âmbito onde essa situação se originou, a religião. Por isso, é difícil imaginar que a emancipação da mulher possa realmente ocorrer um dia. Pois nos é impossível imaginar uma sociedade não religiosa. Nosso ethos tem na religião um componente importante, talvez até quase igual ao da língua. E a submissão da mulher está embrenhada em ambos. Não à toa, além da proibição do incesto e a consideração do assassinato um crime, o machismo é o terceiro elemento que faz cada povo do Ocidente pertencer ao conjunto dos “humanos” e, então, se irmanar.
Conheça um pouco a história da Papisa Joana
Uma das provas mais incontestáveis da existência de Joana está exatamente no decreto, publicado pela corte de Roma, que proibiu a sua colocação no catálogo dos papas. “Assim, acrescenta o sensato Launay, não é justo sustentar que o silêncio que se guardou sobre esta história, nos tempos que se seguiram imediatamente ao acontecimento, seja prejudicial à narrativa que mais tarde foi feita.
Durante muitos séculos a história da papisa Joana havia sido reputada pelo próprio clero como incontestável e, compreendendo o escândalo e o ridículo que o reinado de uma mulher devia lançar sobre a Igreja, trataram de fábula digna do desprezo dos homens esclarecidos, o pontificado dessa mulher célebre. Autores mais justiceiros defenderam, pelo contrário, a reputação de Joana. Não se conhece com exatidão o nome que ela usou na sua infância; a filha de padre inglês é igualmente chamada Agnés por alguns autores. Gerberta ou Gilberta por outros e, finalmente Joana pela maioria.
Sua história papal começou após a morte do papa Leão IV. Para ocupar o trono de São Pedro em seu lugar, foi eleito o papa João VIII. João VIII era um homem muito inteligente, conhecido como o príncipe dos sábios. O grande erro por parte de João VIII era estar grávido. Como assim, grávido? Isso mesmo, um papa grávido. Seu caso só foi descoberto quando sentiu muitas dores de parto em meio a uma procissão numa ruela entre o Coliseu romano e a Basílica de São Clemente. A multidão indignada percebeu que se tratava de uma mulher que já não conseguia mais esconder a gravidez por debaixo de suas largas vestimentas. Joana rola pelo chão com gemidos horríveis, até que, no meio de convulsões tremendas e na presença de uma grande multidão, a papisa Joana deu a luz uma criança!
No fim das contas, a papisa foi amarrada em um cavalo e apedrejada até seu último suspiro. Desta forma, morreu a papisa Joana, no dia das Rogações, em 855. depois de ter governado a igreja de Roma durante mais de dois anos. A criança foi sufocada pelos padres que cercavam a mãe, mas os romanos, em memória do respeito e da dedicação que durante tanto tempo haviam consagrado a Joana, consentiram em prestar-lhe os últimos deveres e, sem pompa, colocaram o cadáver da criança no seu túmulo. Joana foi enterrada no mesmo lugar onde sucedera aquele trágico acontecimento.
O clero de Roma, ferido na sua dignidade e cheio de vergonha por aquele acontecimento singular, publicou um decreto proibindo aos pontífices atravessarem a praça pública onde tivera lugar o escândalo. Por isso, depois dessa época, no dia das Rogações, a procissão, que devia partir da basílica de São Pedro para se dirigir a Igreja de São João de Latrão, evitava aquele lugar abominável situado no meio do seu caminho, e fazia um longo roteiro.
A Cadeira Furada
Para evitar que uma mulher sentasse no trono de São Pedro novamente, a cúria impôs um novo processo, a Cadeira Furada, já que segundo o clero, as mulheres eram seres inferiores e incapazes de assumir qualquer papel político ou espiritual. O sucessor de Joana foi o primeiro a se submeter a essa prova, que passou a ser realizada na eleição do pontífice, quando consagrado solenemente. Os grandes dignitários da igreja davam a mão ao papa e conduziam-no à capela de São Silvestre, onde se localizava uma cadeira furada no centro, na qual faziam assentar o pontífice
Antes da consagração, os bispos e os cardeais faziam colocar o papa sobre essa cadeira, meio estendido, com as pernas separadas, e permanecia exposto nessa posição, com os hábitos pontífices entreabertos, para mostrar aos assistentes as provas da sua virilidade. Finalmente, aproximavam-se dele dois diáconos, asseguravam-se pelo tato de que os olhos não eram iludidos por aparências enganadoras e davam disso testemunho aos assistentes gritando com voz alta: “Temos um legítimo papa”!
Constantin Film, a mesma produtora que fez “O Nome da Rosa“, terminou de filmar “Papisa Joana” em janeiro de 2010. O roteiro é baseado no livro “Papisa Joana” da escritora Donna Woolfolk Cross, que vai figurar nos créditos do filme como “consultora criativa”.Donna também assistiu às gravações, que ocorreram na Alemanha e no Marrocos. “Eles precisavam me tirar à força do set no final de cada dia de filmagem. Foi extraordinário observar tanta gente – atores, operadores de câmera, maquiadores, extras, até animais – reconstituindo cenas e diálogos que eu havia escrito na solidão do meu pequeno escritório“, declara entusiasmada à espera do lançamento.
Abraços e Paz amados(as)